quarta-feira, 6 de junho de 2012

dia #79 - helô

o buraco não parece o mapa do brasil?
antes de uma chuveirada leptospirótica, para meu deleite matutino, estava lendo uma entrevista do cortázar que saiu na revista cult de maio e foi publicada no volume 2 do paris review pela companhia das letras. antes de citar um trecho, só um esclarecimento para justificar a mágica: o cortázar é meu escritor favorito pelo cronópio que ele é, sempre me surpreende pela simplicidade.

Quando o senhor começou a se interessar pelo fantástico? Quando era jovem?
Começou na infância. A maioria dos meus colegas de classe não tinha ideia do fantástico. Tomavam as coisas como elas eram... Isto é uma planta, aquilo é uma poltrona. Mas, para mim, as coisas não eram assim tão bem definidas.
Minha mãe, que ainda está viva e é uma mulher de muita imaginação, me incentivou. Em vez de dizer: "Não, não, você precisa ser sério", ela ficava contente por eu ser imaginativo. Quando me voltei para o mundo do fantástico, ela me ajudou dando-me livros. Li Edgar Allan Poe pela primeira vez quando tinha apenas nove anos. Roubei o livro porque minha mãe não queria que eu o lesse, pensava que eu era jovem demais e estava certa. Aquilo me deixou apavorado e fiquei doente por três meses, porque acreditei nele... "Dur comme fer", como dizem os franceses.
Para mim, o fantástico era perfeitamente natural. Eu não tinha a menor dúvida disso. Assim eram as coisas. Quando eu dava esse tipo de livro para os meus amigos, eles diziam: "Não, nós preferimos ler histórias de caubói". Os caubóis eram especialmente populares naquela época. Eu não entendia isso. Preferia o mundo do sobrenatural, do fantástico.

Um comentário:

Babi disse...

como ele foi (é!) lindo, lindo, lindo! eu me sinto em casa nas palavras do Cortázar. eu chorei com alguns trechos dessa entrevista - não sei se por causa da felicidade quase dolorida que as ideias dele causam em mim ou se por causa da tristeza que me faz sorrir quando eu penso que pessoas assim existem, sim (mas se vão...)