terça-feira, 3 de julho de 2012

dia #107 - Carlos

No último sábado, voltando para a casa depois de ter assistido ao filme Terra e Liberdade, desci a Rua Padre João Manuel lentamente, forçado a desviar dos automóveis luxuosos que paravam, indiscriminadamente, diante dos restaurantes frequentados pela burguesia paulistana. Manobristas em êxtase corriam, abriam as portas dos carros e recebiam alegremente os clientes, enquanto as duas faixas da rua ficavam interditadas. Mais adiante, na Av. Europa, a lentidão era causada por aqueles que desaceleravam para deslumbrar os carros importados expostos nas vitrines das concessionárias. Alguns fotografavam dos carros, outros caminhavam nas calçadas, acompanhados da família, fotografando... E eu com o Terra e Liberdade na cabeça, os olhos marejados pela história daqueles que entregaram suas vidas por um mundo liberto do fascismo e socialmente mais justo... Alguma coisa estava errada entre o que se passava na minha cabeça e aquilo que os meus olhos presenciavam. Claro, a História sempre me explicou o que se passava, mas na hora me faltou clareza para entender como os sonhos do passado culminaram naquilo. Hoje, ouvindo Índios, da Legião Urbana, estava lá o que eu queria ter pensado no sábado:

Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer.

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.

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