terça-feira, 15 de maio de 2012

dia #58 - Carlos

Exercitar o olhar para o belo que se esconde na objetividade dos dias têm se tornado uma tarefa diária desde que eu e a Helô começamos o blog. Muitas vezes essa beleza é latente, outras é velada – nesses casos, preciso de uma lupa no lugar dos óculos. Quando é latente, chego a pensar que o dia foi bom, mas, depois de 58 dias de treino, começo a notar que a beleza escancarada é fácil, basta seguir os olhares e risos dos outros; difícil é notar os mistérios que o belo carrega consigo. Peguemos como exemplo os tucanos. Eles começam a aparecer nas bandas de cá nessa época. Seu grasnar grave já é conhecido e leva as pessoas a buscarem nas copas das árvores a sua beleza. Ao encontrá-los empoleirados, sorriem, apontam-nos, munem-se de suas máquinas fotográficas e celulares para capturarem e eternizarem sua beleza. Esquecemos a existência dos pardais, bem-te-vis, joões-de-barro; das pombas, cotovias e todos os outros pássaros que passam em revoada a todo instante; pássaros que nos meses em que os tucanos não nos visitam, preenchem as horas com o seu canto e, laboriosamente, graveto a graveto, constroem seus ninhos nos lugares que julgam ser o mais seguros.

A verdade é que observando os tucanos por mais tempo, nota-se que eles chegam nessa época e saqueiam os ninhos, comem seus ovos ou os pequenos filhotes, afugentam os pais e provocam uma reação de desespero nas mães, que, ao retornarem com o alimento no bico, encontram seus ninhos vazios.

Ano que vem os tucanos voltam, assim como os ladrões de Os sete samurais.

A obviedade esconde outras formas de beleza. Treinar o olhar para elas é não se impressionar com a beleza que reside no óbvio.

3 comentários:

babi disse...

por que não se impressionar com a beleza que reside no óbvio? é menos valiosa a beleza que [teoricamente] todos enxergam? é desinteressante a beleza compartilhada? ainda acho que essa tal beleza do óbvio, do simples, do que simplesmente ''é'' e ''está'' - sem groselhas, explicações, divagações - passa muitas despercebida, tão misteriosa e velada que é, frente às preocupações e correrias e tentativas de explicar e encontrar motivos e achar tudo tão complexo e e e...

Carlos disse...

o belo pode variar de observador para observador. só acho que podemos encontrar mistérios além do óbvio, o que não o impede de ser belo.

babi disse...

entendi. é verdade.