terça-feira, 15 de maio de 2012

dia #58 - helô

duas pessoas que marcaram minha vida, mesmo que brevemente, foram minha avó parterna, Leonor, e o avô dos meus primos, o vô Bruno. eram muito amorosos e ambos morreram no dia do meu aniversário, quando completei 3 e 8 anos, respectivamente. como vejo sentido nas pequenas coisas, penso que há um significado oculto por terem viajado bem nesse dia, que acho que ainda não compreendi. talvez um desapego que devo ter com os que amo? não sei.

sempre que leio a biografia de um escritor, cineasta, desenhista, de qualquer pessoa que admiro, confiro a data de nascimento e morte. acredito em astrologia. clarice lispector também morreu no dia do meu aniversário, mas um ano antes de eu nascer. e ela nasceu um dia depois do dia do meu aniversário. o que isso significa? para alguém racional, talvez nada. mas, para mim, é nas entrelinhas do que ela escreve que me reconheço e me identifico totalmente. ela praticamente lê minha alma.

o que de mais bonito eu li no dia. obrigada, clarice.

A descoberta do amor
“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
       Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”

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