terça-feira, 27 de março de 2012

dia #9 - Carlos

Parado no trânsito de São Paulo, olhei para o lado e vi, na pista do sentido contrário ao meu, um jovem num Peugeot prata com os vidros da frente abaixados, cantando a plenos pulmões, com direito a caras, bocas e trejeitos de cantor de caraoquê. O motorista do caminhão que estava parado ao lado dele transformou a boleia num verdadeiro camarote, de onde assistia a tudo com visão privilegiada. Sem conter o riso, ele olhava para o companheiro de boleia, que não conseguia enxergar nada, mas o acompanhava na risada. Abaixei o volume do rádio, desci o vidro e me esforcei para ouvir a música que o rapaz ouvia e cantava. Duas motos passaram zunindo no corredor formado entre os carros, o carro da frente andou e eu fui forçado a engatar a primeira marcha, frustrando minha curiosidade. Quando dei por mim, estava eu com um sorriso no rosto, achando graça do motorista e rindo de mim mesmo – ridiculamente curioso.

***

Depois do almoço, dei uma volta numa galeria para fazer hora até a minha segunda consulta médica do dia. Achei um sebo pegado num café (sugestivo, não?). Na vitrine do sebo, uma meia dúzia de livros do Chico Anísio, inclusive o Carapau, que citei aqui no dia #5. Entrei, perguntei sobre o livro e o dono disse que o chamaram de oportunista por ter feito uma vitrine com as obras do humorista morto. Ele disse se tratar de uma homenagem (?). Conversamos sobre a genialidade do falecido, a sua importância para o humor brasileiro, blá, blá, blá e chegamos à conclusão que nem eu, nem ele, gostamos de stand up. Por fim, pechinchei e arrematei o livro por R$ 5,00 – primeira edição, ótimo estado, capa desenhada pelo Ziraldo, orelha escrita pela Jorge Amado e prefácio assinado pelo Orígenes Lessa (vai dizer que você não compraria?).
Olhei o relógio. Sentei no café, tomei um espresso e li dois capítulos que me arrancaram sorrisos que disfarcei – um dia eu terei a coragem do cara do Peugeot.
Na hora de pagar, me perdi numa bela fotografia de um café de Paris pendurada na parede (encontrei uma idêntica na internet, que coloquei abaixo). Se a dono do café não me chamasse até o caixa, acho que continuaria na Paris dos anos 50 que a foto evocava.


3 comentários:

Anônimo disse...

Irmão...
Curioso como dentro do carro temos à impressão de estarmos "sozinhos" já me peguei numa situação parecida com essa do cara do peuget,mas além de cantar eu dançava, diferença que estava com os vidros fechados... A música tem esse dom de nos desconectar daquele lugar e nos transportar para onde "queremos"... Assim como a leitura e os quadros...
Que mágico esse momentos que nos entregamos totalmente as emoções!!!
Bjs Dani

helô beraldo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos disse...

Mágico mesmo, Dani! Ainda mais se pensarmos no trânsito de São Paulo... só com bom humor para enfretá-lo.