terça-feira, 10 de abril de 2012

dia #23 - Carlos

A atividade intelectual, por mais que digam o contrário, para mim é uma aventura. Desbravar os “mistérios” do mundo, caminhar rumo ao desconhecido e, ao atingir o destino, dar-se conta de que a viagem apenas começou ou não serviu para nada além da descoberta de que o caminho tomado foi um equívoco, é mais prazeroso (repito, para mim) do que muitos pacotes de turismo de aventura.

Alguns preferem não encontrar dúvida no fim do trajeto – o mundo construído em terreno movediço não agrada intelectuais (e todos os demais) que se concebem como possuidores de saberes verdadeiros e, consequentemente, inquestionáveis –, o que, costumeiramente, acarreta uma tremenda falta de interesse por assuntos que não tratem de questões individuais e imediatas. Essa falta de interesse acaba provocando em mim novos mergulhos nos livros e em esparsas conversas com pessoas interessadas em dialogar sobre tudo o que é de interesse coletivo e sem solução a curto prazo, sem se sentir importunada ou fazer aquela cara de que você a está chateando com assuntos que não a interessam – considerando isso, ser professor é um privilégio. A sala de aula é um ótimo lugar para conversarmos sobre todas essas questões e mudarmos a práxis.

Bem, antes que eu estenda demais o assunto, e o pessimismo possa tomar corpo, sair das entrelinhas, acabar com esse texto e com a beleza do dia #23, vamos direto para onde reside a magia do meu dia. Hoje, enquanto dialogava com o jornal sobre todos esses temas que costumam importunar as pessoas, como dito acima, li a coluna semanal do Vladimir Safatle (link) e encontrei nele a conversa que já tentei ter com alguns, mas que acabou por não se tratar de interesse individual e imediato. O texto provocou em mim uma sensação reconfortante. Além de eu achá-lo o melhor texto do Safatle publicado na Folha de S.Paulo, ele reforçou em mim a certeza de que os combates pela história e pela memória continuam sendo travados diariamente e, mesmo que eu me sinta muitas vezes sem um companheiro de armas, eles existem, atuam e continuam mantendo viva a certeza de que a história tem muitos tempos, e que algumas batalhas, mesmo sendo de longa duração, não deixarão de serem lutadas.

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